domingo, 3 de outubro de 2010

O que são as más inclinações?


Uma má inclinação natural, também chamada imperfeição, não se constitui propriamente como pecado nem venial nem mortal. A sua prática constante é designada de falta. E não é pecado precisamente porque a ela nos sentimos inclinados de forma natural, não participando a nossa vontade, livre e esclarecida, no consentimento a tal inclinação. Não é pecado porque não depende de nós e da nossa vontade. Só seria pecado se, com o nosso entendimento e a nossa vontade, consentíssemos em algo mau.

Todos nós temos inclinações naturais, quer dizer, que já nascem connosco forma de agir. Essas inclinações naturais podem levar-nos a Deus ou afastar-nos d’Ele.

Por exemplo, há pessoas com grande inclinação para a tristeza, para o abatimento ou, mais modernamente, para a depressão. Outras há, pelo contrário, com grande inclinação para uma alegria exacerbada, eufórica, puramente emocional.

Há pessoas muito calmas, mansas, humildes, bondosas e pacientes. Outras muito irascíveis, zelosas, ásperas, frontais, sinceras, diretas.

Uns são muito propensos à indignação; outros à paciência, ao amor e à bondade.

Estas inclinações naturais são-nos muitas vezes extremamente prejudiciais porque, ainda que não sejam pecado, são desordens graves que nos podem conduzir ao pecado.

Assim, por exemplo, uma pessoa que viva constantemente na tristeza e a pensar no seu profundo sofrimento, pode ter a tentação de se suicidar, de fazer alguma coisa para chamar a atenção dos outros. Do mesmo modo, alguém que sinta sempre uma alegria desmedida e descontrolada pode não ser capaz de dominar os seus apetites e paixões desregradas, deixando-se arrastar pelos impulsos que o seu estado de espírito lhe sugere.

A pessoa demasiado calma, em questões de fé e doutrina, pode passar por morna, tíbia, indiferente. Pelo contrário, a demasiado áspera, passa por azeda, amarga, rancorosa e mal educada.

O que se indigna com facilidade, pode tornar-se rancoroso, perder a paciência e afastar os que o circundam; o que tem mais propensão para a bondade pode transigir com o erro.

Por essa razão, temos de nos purificar das nossas más inclinações, servindo-nos delas apenas como meio para atingir o fim para que fomos criados: servir a Deus e salvar as nossas almas. Sempre que as inclinações não sejam um meio para atingir esse fim, e mais sejam estorvo do que meio, devemos tentar purificarmo-nos delas e da sua influência em nós e na nossa forma habitual de agir.

A purificação das más inclinações consegue-se, praticando a virtude que lhes é contrária. Usando uma vez mais os exemplos acima: o que se indigna facilmente, procure ter mais paciência; os que parecem bons demais, sejam mais firmes nos seus posicionamentos, crenças e valores. O que tem mais tendência para o abatimento, procure alegrar-se em Deus e alimentar pensamentos alegres como a meditação da ressurreição de Cristo; o que tem inclinação para uma alegria exagerada, procure meditar muito na dolorosa paixão do Senhor e na santa cruz, de modo a refrear os seus ímpetos desordenados.

Com efeito, não existe nenhuma inclinação natural tão má que, pela graça de Deus, não possa ser corrigida. Todos nos devemos esforçar para descobrir e vencer estas más inclinações com que todos nascemos. Para tal, exercitemo-nos nas virtudes que lhes são contrárias, de forma a alcançar maior perfeição e a avançar na vida espiritual.

E, como de todo o mal o Senhor tira um grande bem, se não nos for mesmo possível libertarmo-nos das nossas más inclinações, transformemo-las em boas inclinações naturais. Usemo-las para fazer o que agrada a Deus e ofereçamos ao Senhor em sacrifício a cruz que é para nós possuí-las.

Por exemplo, se temos grande tendência – inclinação natural – para a bondade, além de procurarmos não transigir com o erro nem amolecer na razão, havemos de procurar também, para que a inclinação seja boa e nos permita servir a Deus, praticar muitos actos de bondade: com gestos concretos, com palavras confortantes dirigidas aos outros, com pequeninos sinais que podem transformar a vida de alguém e ajudar-nos a crescer em amor a Deus e na prática das virtudes.

Usemos bem as nossas inclinações naturais! E libertemo-nos das que forem prejudiciais às nossas almas e à nossa união com o Divino Salvador.

Fonte: “Vida Espiritual Católica”/AASCJ

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