terça-feira, 19 de outubro de 2010

A simplicidade e a pureza: duas asas do homem para Deus


Ia São Francisco por um caminho agreste, com alguns companheiros, quando, numa árvore, viu um bando de pássaros que enchia o ar com a melodia encantadora de seus gorjeios.

Ao se lhe deparar tão belo quadro, São Francisco ficou maravilhado e disse:

– Esperai-me aqui na estrada que vou pregar às minhas irmãs aves.

E, aproximando-se da árvore, começou a falar a duas ou três avezinhas, que casualmente haviam pousado no chão. Imediatamente, todas as outras desceram de seus ramos e puseram-se, muito quietas, a escutar. E o santo dizia:

– Aves, minhas irmãs, muitos favores deveis a Deus e muito deveis louvá-lo, pois que Ele vos deu a liberdade de voar por toda parte, e as penas com que vos vestis, e o espaço que habitais. Vós não semeais, nem ceifais e, não obstante, Deus vos sustenta. E dá-vos a água dos rios e das fontes para a vossa sede. E os montes e os vales, para vosso refúgio. E as árvores altas e copadas para os vossos ninhos. E muito embora não saibais fiar nem coser, veste-vos Deus e a vossos filhos. Muito, sem dúvida, vos ama o Criador, visto que assim vos beneficia. Guardai-vos, portanto, minhas irmãs, do pecado da ingratidão. E timbrai sempre em louvar o Senhor.

Eram essas as bondosas palavras que São Francisco dirigia às aves que o rodeavam no caminho agreste.

Se as aves ouviram, com tanta devoção, a prédica do santo, por que não hás de ouvir, também, meu amigo e minha amiga, os bons e sábios conselhos dos mestres?

Lembra-te de que com duas asas o homem se eleva acima das coisas da terra: a simplicidade e a pureza.

A simplicidade deve consistir na intenção; a pureza, no afeto.

A simplicidade procura a Deus; a pureza o alcança. Nenhuma boa ação te causará embaraço, se, no íntimo, estiveres livre de afeições desordenadas.

Se nada mais desejares que o beneplácito de Deus e a utilidade do próximo, gozarás de absoluta liberdade interior.

Se o teu coração fosse reto, encontrarias em todas as criaturas um espelho de vida e um livro de santa doutrina.

Não há criatura tão pequena e tão vil, que não dê testemunhos da bondade de Deus.

(Lendas do Céu e da Terra – Malba Tahan – Edição integral – 1983 – pp. 21-22

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seguidores

Arquivo do blogue

A minha Lista de blogues