segunda-feira, 25 de julho de 2011

A Morte e o Lenhador


Já ouvi muitos corajosos que dizem que não tem medo da morte. Mas a morte é um fato terrível, não só por que se perde a vida, mas por causa do Juízo Particular. Ser julgado por Deus, prestar contas de seus atos, ver diante de si seus pecados e suas virtudes... O homem sensato treme ao pensar nessas coisas.

É tão dura a hora da morte que a vida toda o católico reza a Ave Maria pedindo: ”rogai por nós, agora e na hora de nossa morte.” Ora, passamos a vida toda rezando pela hora de nossa morte, e por que?

Porque nessa hora tão difícil não haverá tempo para pedirmos mais nada. Porque a morte é tão dura para nós que passamos toda a vida pedindo a assistência de Nossa Senhora para esse momento tão doloroso. O demônio passa a vida toda tentando nos levar ao pecado, e até nesse último instante ele ainda está lá tentando nos perder para assim perdermos o céu. Se morre como se vive. Quem viveu liberalmente, na hora terrível as piores tentações lhe virão na cabeça. Quem viveu virtuosamente, as orações brotarão naturalmente de seus lábios. Não basta praticar algumas virtudes, mas é preciso que a virtude seja um hábito em sua vida. Quem não tem medo da morte?

“Santa Maria, rogai por nós agora, e na hora de nossa morte. Amém”

A morte do lenhador:

Um velhinho, muito velho, vivia de tirar lenha na mata. Os feixes, porém, cada vez lhe pareciam mais pesados. Tropicava com eles, quase caía, e um dia, caindo de verdade, perdeu a paciência e lamentou-se amargamente:

- Antes morrer! De que me vale a vida, se nem com este miserável feixe posso? Vem, ó Morte, vem aliviar-me do peso desta vida inútil.

Tentou erguer a lenha. Não pode e, desanimado, invocou pela segunda vez a Magra.

- Por que demoras tanto, Morte? Vem, já pedi, vem aliviar-me do fardo da vida. Andas pelo mundo a colher criancinhas e esqueces de mim que te chamo...

A Morte foi e apareceu – horrenda, escaveirada, com os ossos a chocalharem e a foice na mão.

Ao vê-la de perto o homem estremeceu de pavor, e mais ainda quando a Magra lhe disse, batendo os ossos do queixo.

- Chamaste-me; aqui estou!

O velho tremia, suava... E para sair-se dos apuros só teve esta:

- Chamei-te, sim, mas para me ajudares a botar esta lenha às costas...

(autoria: Monteiro Lobato. Do livro Florilégio Nacional – de Português 4ª Série – ano de 1944, que pertenceu ao meu falecido pai)
Fonte Almas Castelos (cortesia)

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