domingo, 7 de agosto de 2011

Rocamadour dos milagres


Um nobre cavaleiro, muito arrogante e orgulhoso, soube pelos seus comandados que havia uma grande movimentação no caminho de São Tiago de Compostela. Isso por que todo o cavaleiro cristão que peregrinava até a Igreja de São Tiago, era atribuído-lhe grande prestígio e trazia-lhe as bênçãos de Nossa Senhora, pois iria agradecer as grandes vitórias alcançadas.

Ora, o nobre arrogante passou a pensar que se não fosse em tal peregrinação, seria por que não tivesse obtido grandes vitórias nos combates. E assim, por mero orgulho, e no intuito de querer ser reconhecido como “grande vitorioso”, resolveu ir com sua cavalaria toda em tal jornada.

Assim, partiu com seus cavaleiros no caminho de Compostela.

Viajaram por dias. E em todos os lugares pelos quais passava, contava suas bravatas e que ia a Compostela para receber as honrarias de suas vitórias.

No caminho, havia uma pequena aldeia incrustada numa montanha. Era Rocamadour. A sua Igreja era famosa por seus milagres. Todo o cavaleiro ali parava e rezava, para depois continuar a viagem. Não poderia ser diferente com o arrogante nobre.

Porém aconteceu um fato espetacular. Ao se aproximar da Igreja foi barrado por uma força invisível. Era como se houvesse uma parede de vidro entre o nobre arrogante e a Igreja.
O cavaleiro fez de tudo para tentar entrar na Igreja, mas não conseguia.

Seus gritos de raiva foram atraindo as pessoas da região, bem como o padre que estava dentro da Igreja. Todos observavam sem entender porque o nobre não conseguia entrar na Igreja. Diante de todos, e já com sua arrogância estremada e envergonhado porque havia grande quantidade de pessoas, o nobre deu uma ordem aos seus cavaleiros.

Pediu a todos que descessem de seus cavalos, formassem uma fila, e empurrassem o nobre para dentro da Igreja. No entanto mesmo assim, o nobre como que prensado nessa parede invisível, não conseguia entrar na Igreja.

O padre que da porta da Igreja tudo via, teve uma visão e anunciou-a ao Nobre arrogante:

- Senhor, em vão gastareis de força para entrar neste lugar Santo, pois é a própria Virgem que lhe impede de entrar. Se não vos arrependerdes de seus pecados, jamais entrarás aqui.

Furioso, o nobre pedia ainda mais forças aos seus soldados, até que sangue lhe escorre pela boca.

Diante dessa situação, o nobre envergonhado pelo estado de sua alma, pede ao padre que, então, lhe receba em confissão. E lá mesmo confessou seus pecados.

Depois disso, olhando para a porta da Igreja, se dirigiu a ela e conseguiu entrar. Se ajoelhou, e profundamente arrependido de suas faltas, agradeceu a Nossa Senhora por ter lhe livrado do inferno.

Esta é uma pequena história narrada nas cantigas de Santa Maria do Rei Alfonso X.

No entanto o que é Rocamadour?

Pequena para ser considerada uma cidade, uma vila também não é. Os grandes fatos que nela se deram a colocaram acima dos povoados comuns. Incrustada numa montanha, sua configuração mítica reproduz a seu modo o personagem que lhe deu o nome: Amadour, que tendo vivido ao lado da Santíssima Virgem, como seu criado, tornou-se grande e miraculoso santo.

Zaqueu, judeu de Jericó, era tão pequeno que, dele dizem os Evangelhos, para melhor contemplar a passagem do Mestre por sua cidade, subiu numa árvore.

Notando seu enlevo, Jesus o chamou e lhe disse que pernoitaria em sua casa. Essa honra marcou sua conversão.

Segundo imemorial tradição existentes entre os católicos franceses, após a Ressureição de Jesus, não podendo mais servir o Mestre, Zaqueu tornou-se criado de sua santa Mãe.

Após a Assunção aos Céus de Maria Santíssima, não podendo mais servir à Mãe do Mestre, fez Zaqueu como fizeram Lázaro e Maria Madalena: veio servir àquela que futuramente seria, entre as nações, a primogênita da Igreja, a França, então denominada Gália. Nesse território de missão, Zaqueu era chamado de Amadour.

Viveu no sudoeste francês, não longe da fronteira espanhola, solitário, nas grutas do penhasco hoje conhecido como ROCAMADOUR.

Eis o que relata o abade do mosteiro-fortaleza do Mont Saint-Michel, Robert de Torigny, em 1170:

“No ano da Encarnação de 1166, um habitante da região, achando-se em seus últimos instantes, pediu aos seus, sem dúvida por inspiração divina, de enterra-lo à entrada do oratório. Cavando a terra, encontrou-se o corpo de Amadour, bem inteiro; foi colocado na Igreja, junto ao altar, e assim é exposto, íntegro, aos peregrinos”.

A descoberta do corpo de Santo Amadour multiplicou as peregrinações. Reis e santos ali foram rezar ao longo dos séculos. Multidões passaram contritas por aquelas rochas. São Francisco de Assis lá esteve. São Luis com sua mãe, Branca de Castela, e seus irmãos juntaram-se ao longo cortejo dos peregrinos.

(O trecho abaixo da Cantiga de Santa Maria, foi extraído na Revista “Catolicismo” de junho de 1991 – escrito por Nelson R. Fragelli)
Fonte: blog Almas Castelos (cortesia)

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